07 novembro 2010

Pensem, Portugueses, Pensem

Os portugueses deixam-se vender em troca dos votos...

Aumentos na função pública, medicamentos genéricos gratuitos para os idosos, mais umas injustiças laborais e siga...

As leis laborais dão imensos votos porque fazem muitas empresas reféns dos empregados, mas à conta disso proliferam as empresas de trabalho temporário e os recibos verdes...
Mas eleitoralmente falando, está bom, como tal, aumenta a precariedade e diminui a competitividade das empresas.

Enquanto os portugueses não perceberem que sem uma cultura de mérito e trabalho não vamos a lado nenhum pouco há a fazer.

A ideia de que existe uma fonte inesgotável de dinheiro, colónias para explorar, não terminou com a descolonização à custa do endividamento, mas até isso tem limites.

Recusam-se a reparar que as grandes empresas nas áreas das novas tecnologias preferem países mais caros, como a Inglaterra e ninguém se pergunta porquê...

Ataquem o Sócrates à vontade e depois reparem que ele é o reflexo da vontade nacional, em geral as medidas que ele toma têm o apoio da maioria da população.

É injusto o corte aos funcionários públicos, claro que é, é um corte cego que castiga tanto bons como maus trabalhadores, mas quando os próprios não exigem justiça salarial entre si, pouco há a fazer...

O Sócrates já é passado na política portuguesa e deverá ser ele mesmo a ditar o fim da política que temos tido desde o 25 de Abril, ou tomando as medidas que têm de ser tomadas (que ainda não são estas) ou demitindo-se para que seja o Passos a tomá-las.

Agora podemos olhar para o que se passa em perspectiva ou olhar para o chão e culpar quem elegemos, porque somos nós, os portugueses que fechamos os cargos de responsabilidade a pessoas sérias...

Somos nós que não exigimos leis que responsabilizem os políticos civil e criminalmente, somos nós que os deixamos ter mais direitos que o cidadão comum, quando deviam ter mais deveres.

Somos nós que os deixamos dizer o que quiserem na Assembleia da República sem terem de provar o que dizem... Motivo pelo qual abrem tantos noticiários...

Somos nós que desde o 25 de Abril, andamos a querer dinheiro sem saber muito bem de onde vem, nem quem o vai pagar...

30 setembro 2010

Portugal

Portugal precisa que sejam tomadas medidas que a grande maioria da população não quer.

E as principais medidas que têm de ser tomadas, são medidas mais relacionadas com aquilo a que vulgarmente se designa meritocracia.

Ou seja, a introdução de uma cultura de mérito que promova a excelência, a produtividade e a inovação.

Indirectamente isso vai implicar uma grande purga de muitos que infelizmente não merecem o que ganham, mas também precisam de encontrar outra forma de subsistência que lhes permita também ser mais produtivos e quem sabe mais felizes.

É um problema tão grave que se estima que uma grande fatia dos mais competentes a nível nacional saia todos os anos no sentido de encontrar essas condições noutros países.

Ora, como o actual código do trabalho é uma vaca sagrada, e uma cultura de mérito é algo que é visto por muitos como mais exploração, o governo vai tomando as medidas que a população vai aceitando.

É uma lógica populista ou eleitoral como queiram chamar, mas vulgarmente os comentadores políticos admitem que as medidas necessárias ao país podem levar à queda do governo porque efectivamente não existe na população seriedade para admitir que são necessárias.

Agora, nada disto é novo, só que os governantes são obrigados a fazer um discurso optimista e escondendo certos pormenores, não só porque os eleitores não querem saber, como o facto de serem conhecidos causa uma grande perda da confiança na república, com o consequente aumento dos juros a pagar pela dívida e a maior dificuldade de os bancos portugueses se financiar.

Agravando a situação do país e de todos os que têm ou precisam de créditos, e de todos os que indirectamente estão relacionados com estes últimos.

Efectivamente as medidas a tomar, neste momento obrigariam a uma união entre o PSD e o PS e de acordo com muitos analistas poderia não só fazer cair o governo, como que ambos os partidos fossem fortemente castigados nas próximas eleições.

Deixando o caminho aberto a partidos como o CDS ou BE o que pode indiciar que essas reformas seriam inúteis porque seriam rejeitadas efectivamente pelos portugueses, logo nas eleições seguintes, já para não falar da reacção generalizada dos portugueses que poderia não ser pacífica.

Segundo uma vez me contaram, à uns anos o ex-PR Ramalho Eanes tentou criar um partido mais sério (o de então, não têm nada a ver com o de agora segundo me explicaram), mas rapidamente foi descartado pelos portugueses.

Por isso a questão para ser resolvida só lá ia com um aumento da qualidade da educação dos portugueses, que infelizmente têm vindo a diminuir ao longo dos anos, pelo que é algo complicado.

Depois os media, divertem-se em usar os ordenados brutos para causar revolta nas pessoas, porque muitas pessoas pensam que um ordenado bruto e um ordenado limpo é a mesma coisa, mas não é, até porque o ordenado bruto, pode ser considerado apenas os 11 ordenados que a pessoa trabalha efectivamente (que depois são distribuídos pelos 14 limpos). Por isso muitos ordenados de 2000€ brutos que tanto deixam as pessoas revoltadas na prática deverão até ser pouco mais de 1000€ limpos.

Muito haveria a dizer, como a questão das viaturas de luxo ou combustíveis, que contabilizam o seu custo por inteiro, quando na prática grande parte desse custo é receita para o estado, sendo que do ponto de vista prático a haver poupança a fazer ali não é de perto nem de longe os números fabulosos que escandalizam as pessoas.

Depois há a desinformação da saúde, com a ideia do utilizador pagador, as pessoas não fazem ideia dos custos reais dos tratamentos médicos e os seguros de saúde têm muitas excepções e excluem muitas pessoas por terem determinados factores de risco, para além de não serem vitalícios e o seu prémio disparar caso entretanto a pessoa passar a ter riscos ou custos acrescidos.

Quem não tiver seguro de saúde, vai adiar ao máximo a ida ao médico ou recusar os tratamentos, porque ter dinheiro para pagar não implica que a pessoa aceite ficar sem nada numa tentativa de sobreviver que nem é certa, tendo a opção de morrer e deixar esse dinheiro aos seus entes queridos.

Eu sei que todas as escolhas são hipócritas e que implicam vidas humanas, até quando se coloca portagens, isto porque se sabe que menos vão usar as autoestradas, causando mais acidentes (potencialmente mortais) e poluição nas alternativas (ex: CREL - Lisboa) com efeitos graves na saúde de muitas pessoas.

Mas é como a situação dos mineiros do Chile, a quantidade de dinheiro gasta no resgate quando se faz de conta que não se sabe que muitos naquele país deverão morrer há fome, tal como até deverá ainda acontecer por cá.

Ou a hipocrisia de um tratamento de cancro que por cá custa tanto que dava para salvar centenas de vidas em África, embora seja para engrossar as margens das farmacêuticas. As mesmas que fazem com que vacinas que por cá são pagas ou dadas a pequenas faixas da população, mas em África chegam a ser dadas em massa aldeias inteiras.

Todas estas questões devem ser pensadas por todos nós, porque sinceramente não sei as respostas do que é certo ou errado fazer em cada um dos casos, apenas tenho a noção de que todas as decisões têm consequências.

Na educação, aí é que está quanto a mim o maior erro do país, há muito tempo que se sabe que a formação das pessoas compensa em termos de lucro para o estado, isto porque pagam mais IRS, SS, IVA, etc e é por aqui que se devia trabalhar para se aumentar o ordenado médio em Portugal.

Só que com a forma como se têm vindo a deteriorar, há cada vez mais dinheiro desperdiçado e jovens que efectivamente não aproveitaram e como tal dão fortes prejuízo ao estado.

Mas como não há uma vontade por parte das pessoas de levar a sua formação a sério, a ideia é passar esses custos para os pais para que a levem a sério.

Muito mais haveria para dizer, porque a desinformação, o facilitismo e o populismo levam o nosso país a passos largos para o abismo, e não se iludam que não pode acontecer, porque deverá acontecer, segundo me explicaram, a actual força de trabalho que está agora a entrar no mercado é a menos formada e menos preparada para enfrentar isto, pelo que estamos a falar de um problema geracional, que vai demorar pelo menos uma geração a passar, só que desde o 25 de Abril que o problema se agrava.

Julgo que em certa medida isto poderá ser causado pela revolta contra o antigo regime que levou a deitar tudo fora, inclusive o que tinha de bom, passou-se do 8 para o 80.

Eu sei que nas conversas de ocasião é fácil chamar mentiroso ao Sócrates, nem é preciso recortes de jornal, a questão é, se ele fosse honesto teria sido eleito?

Haverá na política portuguesa espaço para homens honestos não-mentirosos?

Deixariam os portugueses?

Aí é que está, mesmo um homem 100% íntegro teria de mentir e manipular os portugueses para ser eleito, é impressão minha ou é uma contradição?

E para terminar, não, o maior problema do país não é, nem nunca foram os apoios sociais, mas sim a ausência de justiça em todo o lado, seja em quem recebe apoio, mas principalmente em cada posto de trabalho, em que uns não trabalham, outros trabalham e no final é igual para todos.

É principalmente esta última injustiça que faz com os ordenados sejam mais baixos, porque é a dividir por muitos na hora de receber e por poucos na hora de fazer.

Por várias vezes já ouvi que o ordenado médio limpo real em Portugal é pouco mais que o ordenado mínimo, acho que isto retrata bem a nossa realidade e a significância reduzida que têm os ordenados acima do mínimo.

Mas ainda assim, são estes ordenados que pagando mais impostos são perseguidos pelos media, uma distracção relevante em termos de audiência, mas que não contribui em nada para resolver os problemas do país.

Por isso meus caros, pensem e analisem bem as coisas, porque nas conversas ou bocas de ocasião é isso que o país precisa, as pessoas não são burras, fazem-se porque interessa, mas não o são.

Agora efectivamente neste momento o mais razoável para todos os portugueses é emigrar, para outros países onde a cultura seja mais favorável ao reconhecimento do seu mérito.

Porque mesmo aqueles que muitas vezes são grandes preguiçosos por cá, por vezes se revelam excelentes profissionais apaixonados pelo trabalho deles, deixando qualquer um boquiaberto.

Os que já são excelentes por cá, obviamente que não vão surpreender em termos do seu valor, mas em termos do reconhecido que por cá lhes era negado ou mesmo sequer considerado impensável.

14 julho 2010

Amizade

O que é a amizade?

Será a amizade estar simplesmente lá para quando os amigos precisam?

Será a amizade confrontar os amigos, mesmo quando não querem?

Será apenas dar um ombro amigo e fazer de conta que compreendemos?

Sinceramente, não sei.

Sei é que não consigo ser amigo de ninguém sem ser sincero, frontal. O que é muito duro e muito complicado. Especialmente que nem sempre consigo dizer as coisas com a moderação que deveria, o que é lamentável.

Ainda hoje fui mais uma vez surpreendido por uma amiga minha e da Célia, que eu nem reconheci de tão diferente que estava.

Ela percebeu que não a tínhamos sequer reconhecido e veio então ela falar connosco, já não a víamos há mais de um ano, gostei bastante de a ver, muito mais alegre e bem disposta, e claro a vender saúde. :)

Eu sinceramente não sei que tipo de conversas terei tido com ela, mas sei que fui sincero com ela, tal como fui com todos naquele sítio. O que para muitos é uma grande crueldade.

O mais provável é ter sido mesmo cruel ou desagradável com ela, não sei, passei por alguns momentos muito complicados pelo meio, inclusive perdi uma amiga com cancro nessa altura. E nesse caso terei pecado por defeito, por ser uma amiga de longa data e nunca me ter passado pela cabeça que ela não estivesse a ser sincera. Quando percebi a forma como ela estava a encarar as coisas era tarde demais e isso puxou ainda mais por mim neste aspecto desagradável.

Lamento dizer, mas não dei o ombro para ninguém chorar, ouvia o que todos tinham para dizer, compreendia-os, mas sempre os motivei a encontrar alternativas, a lutarem por aquilo que os fazia felizes.

Nunca fui de pintar cenários cor de rosa, sempre fui de enfrentar a realidade dos factos e identificar os factores de risco associados.

Sempre fui de defender que os adamastores podem ser vencidos, desde que estejamos dispostos a isso.

A verdade é que esta não foi a primeira vez que fomos surpreendidos por antigos companheiros que já não víamos há imenso tempo, com os quais tinha tido este relacionamento controverso, na verdade foi pelo menos a 4ª vez.

Não sei qual o verdadeiro motivo pelo qual fazem questão de falar connosco quando seria mais fácil ainda simplesmente fazer de conta que não nos tinham visto ou reconhecido.

Terá sido porque num momento complicado das suas vidas sentiram que alguém não se esteve a borrifar para eles? Será por uma questão de pena? Não sei, o que sei é que tipicamente as pessoas me gostam de rotular de intrometido, de arrogante, de que tenho a mania, etc.

O que é engraçado é de que de uma forma ou de outra com estas pessoas até teríamos tido muito para falar caso tivesse existido essa oportunidade.

Um chegou a pedir-me para ir lá falar com ele à sala já que ia lá ficar umas boas horas, mas era uma área reservada e as salas não estão feitas para as pessoas estarem acompanhadas. E claro a minha reputação ainda deve ser conhecida pelos enfermeiros.

É que contrariamente às pessoas que fazem voluntariado nos hospitais, eu não dou palavras de conforto, é de desconforto mesmo, faço as pessoas sentir que podem efectivamente controlar e ultrapassar os problemas que têm.

É que quando acreditamos que não conseguimos, não conseguimos.

Por isso, tentando responder à pergunta, a função do amigo não é certificar-se de que os amigos não precisam de um ombro para chorar?

É certo que não tenho muitos amigos, é certo que sou bruto com eles, mas na maioria dos casos não me tenho de preocupar com eles, porque de uma forma ou de outra eles estão bem com a sua vida.

Sabem o que querem e muitas vezes até sabem bem o que penso das asneiras que andam a fazer, mas quando precisam ou eu preciso, é na hora.

O que é mais estranho, é socialmente ou melhor oficialmente nem sermos amigos, por este ou por aquele motivo, e estarmos por vezes muitos anos sem nos falarmos.

Mas quando nos encontramos é como se tivéssemos sido sempre grandes amigos.

Será este o desígnio da nossa sociedade, que obriga a amizade sincera a ser clandestina? Não sei, sei que por vezes a sociedade tem tendência a colocar uma carga sobre a amizade que não é real, tendo no meu caso chegado a por em causa a minha orientação sexual.

Actualmente o maior problema é sempre com as amigas, algumas casadas, outras com namorados, é sempre um bocado complicado. Uma vez estava a falar com uma na presença do marido e o homem não conseguia disfarçar o quanto incomodado estava, embora fosse uma conversa perfeitamente normal.

E eu até sou daquelas pessoas que evita ao máximo fazer elogios ao cabelo, à roupa ou aos sapatos, tocar ou dar beijinhos porque tento ao máximo evitar mal entendidos e problemas, apesar de saber quão importante é esse tipo de feedback para as mulheres.

Por isso, o moral da história, acho que é este, se tens muitos amigos sempre a chorar no teu ombro, então tu és parte do problema, não és parte da solução.