30 setembro 2010

Portugal

Portugal precisa que sejam tomadas medidas que a grande maioria da população não quer.

E as principais medidas que têm de ser tomadas, são medidas mais relacionadas com aquilo a que vulgarmente se designa meritocracia.

Ou seja, a introdução de uma cultura de mérito que promova a excelência, a produtividade e a inovação.

Indirectamente isso vai implicar uma grande purga de muitos que infelizmente não merecem o que ganham, mas também precisam de encontrar outra forma de subsistência que lhes permita também ser mais produtivos e quem sabe mais felizes.

É um problema tão grave que se estima que uma grande fatia dos mais competentes a nível nacional saia todos os anos no sentido de encontrar essas condições noutros países.

Ora, como o actual código do trabalho é uma vaca sagrada, e uma cultura de mérito é algo que é visto por muitos como mais exploração, o governo vai tomando as medidas que a população vai aceitando.

É uma lógica populista ou eleitoral como queiram chamar, mas vulgarmente os comentadores políticos admitem que as medidas necessárias ao país podem levar à queda do governo porque efectivamente não existe na população seriedade para admitir que são necessárias.

Agora, nada disto é novo, só que os governantes são obrigados a fazer um discurso optimista e escondendo certos pormenores, não só porque os eleitores não querem saber, como o facto de serem conhecidos causa uma grande perda da confiança na república, com o consequente aumento dos juros a pagar pela dívida e a maior dificuldade de os bancos portugueses se financiar.

Agravando a situação do país e de todos os que têm ou precisam de créditos, e de todos os que indirectamente estão relacionados com estes últimos.

Efectivamente as medidas a tomar, neste momento obrigariam a uma união entre o PSD e o PS e de acordo com muitos analistas poderia não só fazer cair o governo, como que ambos os partidos fossem fortemente castigados nas próximas eleições.

Deixando o caminho aberto a partidos como o CDS ou BE o que pode indiciar que essas reformas seriam inúteis porque seriam rejeitadas efectivamente pelos portugueses, logo nas eleições seguintes, já para não falar da reacção generalizada dos portugueses que poderia não ser pacífica.

Segundo uma vez me contaram, à uns anos o ex-PR Ramalho Eanes tentou criar um partido mais sério (o de então, não têm nada a ver com o de agora segundo me explicaram), mas rapidamente foi descartado pelos portugueses.

Por isso a questão para ser resolvida só lá ia com um aumento da qualidade da educação dos portugueses, que infelizmente têm vindo a diminuir ao longo dos anos, pelo que é algo complicado.

Depois os media, divertem-se em usar os ordenados brutos para causar revolta nas pessoas, porque muitas pessoas pensam que um ordenado bruto e um ordenado limpo é a mesma coisa, mas não é, até porque o ordenado bruto, pode ser considerado apenas os 11 ordenados que a pessoa trabalha efectivamente (que depois são distribuídos pelos 14 limpos). Por isso muitos ordenados de 2000€ brutos que tanto deixam as pessoas revoltadas na prática deverão até ser pouco mais de 1000€ limpos.

Muito haveria a dizer, como a questão das viaturas de luxo ou combustíveis, que contabilizam o seu custo por inteiro, quando na prática grande parte desse custo é receita para o estado, sendo que do ponto de vista prático a haver poupança a fazer ali não é de perto nem de longe os números fabulosos que escandalizam as pessoas.

Depois há a desinformação da saúde, com a ideia do utilizador pagador, as pessoas não fazem ideia dos custos reais dos tratamentos médicos e os seguros de saúde têm muitas excepções e excluem muitas pessoas por terem determinados factores de risco, para além de não serem vitalícios e o seu prémio disparar caso entretanto a pessoa passar a ter riscos ou custos acrescidos.

Quem não tiver seguro de saúde, vai adiar ao máximo a ida ao médico ou recusar os tratamentos, porque ter dinheiro para pagar não implica que a pessoa aceite ficar sem nada numa tentativa de sobreviver que nem é certa, tendo a opção de morrer e deixar esse dinheiro aos seus entes queridos.

Eu sei que todas as escolhas são hipócritas e que implicam vidas humanas, até quando se coloca portagens, isto porque se sabe que menos vão usar as autoestradas, causando mais acidentes (potencialmente mortais) e poluição nas alternativas (ex: CREL - Lisboa) com efeitos graves na saúde de muitas pessoas.

Mas é como a situação dos mineiros do Chile, a quantidade de dinheiro gasta no resgate quando se faz de conta que não se sabe que muitos naquele país deverão morrer há fome, tal como até deverá ainda acontecer por cá.

Ou a hipocrisia de um tratamento de cancro que por cá custa tanto que dava para salvar centenas de vidas em África, embora seja para engrossar as margens das farmacêuticas. As mesmas que fazem com que vacinas que por cá são pagas ou dadas a pequenas faixas da população, mas em África chegam a ser dadas em massa aldeias inteiras.

Todas estas questões devem ser pensadas por todos nós, porque sinceramente não sei as respostas do que é certo ou errado fazer em cada um dos casos, apenas tenho a noção de que todas as decisões têm consequências.

Na educação, aí é que está quanto a mim o maior erro do país, há muito tempo que se sabe que a formação das pessoas compensa em termos de lucro para o estado, isto porque pagam mais IRS, SS, IVA, etc e é por aqui que se devia trabalhar para se aumentar o ordenado médio em Portugal.

Só que com a forma como se têm vindo a deteriorar, há cada vez mais dinheiro desperdiçado e jovens que efectivamente não aproveitaram e como tal dão fortes prejuízo ao estado.

Mas como não há uma vontade por parte das pessoas de levar a sua formação a sério, a ideia é passar esses custos para os pais para que a levem a sério.

Muito mais haveria para dizer, porque a desinformação, o facilitismo e o populismo levam o nosso país a passos largos para o abismo, e não se iludam que não pode acontecer, porque deverá acontecer, segundo me explicaram, a actual força de trabalho que está agora a entrar no mercado é a menos formada e menos preparada para enfrentar isto, pelo que estamos a falar de um problema geracional, que vai demorar pelo menos uma geração a passar, só que desde o 25 de Abril que o problema se agrava.

Julgo que em certa medida isto poderá ser causado pela revolta contra o antigo regime que levou a deitar tudo fora, inclusive o que tinha de bom, passou-se do 8 para o 80.

Eu sei que nas conversas de ocasião é fácil chamar mentiroso ao Sócrates, nem é preciso recortes de jornal, a questão é, se ele fosse honesto teria sido eleito?

Haverá na política portuguesa espaço para homens honestos não-mentirosos?

Deixariam os portugueses?

Aí é que está, mesmo um homem 100% íntegro teria de mentir e manipular os portugueses para ser eleito, é impressão minha ou é uma contradição?

E para terminar, não, o maior problema do país não é, nem nunca foram os apoios sociais, mas sim a ausência de justiça em todo o lado, seja em quem recebe apoio, mas principalmente em cada posto de trabalho, em que uns não trabalham, outros trabalham e no final é igual para todos.

É principalmente esta última injustiça que faz com os ordenados sejam mais baixos, porque é a dividir por muitos na hora de receber e por poucos na hora de fazer.

Por várias vezes já ouvi que o ordenado médio limpo real em Portugal é pouco mais que o ordenado mínimo, acho que isto retrata bem a nossa realidade e a significância reduzida que têm os ordenados acima do mínimo.

Mas ainda assim, são estes ordenados que pagando mais impostos são perseguidos pelos media, uma distracção relevante em termos de audiência, mas que não contribui em nada para resolver os problemas do país.

Por isso meus caros, pensem e analisem bem as coisas, porque nas conversas ou bocas de ocasião é isso que o país precisa, as pessoas não são burras, fazem-se porque interessa, mas não o são.

Agora efectivamente neste momento o mais razoável para todos os portugueses é emigrar, para outros países onde a cultura seja mais favorável ao reconhecimento do seu mérito.

Porque mesmo aqueles que muitas vezes são grandes preguiçosos por cá, por vezes se revelam excelentes profissionais apaixonados pelo trabalho deles, deixando qualquer um boquiaberto.

Os que já são excelentes por cá, obviamente que não vão surpreender em termos do seu valor, mas em termos do reconhecido que por cá lhes era negado ou mesmo sequer considerado impensável.