04 outubro 2016

Perspectivas

Há um discurso que diz que determinados objectivos só se atingem quando os queremos tão fortemente como queremos respirar. Já um discurso famoso alerta para a mudança de perspectiva quando temos a noção que podemos morrer.

Estas semanas tenho sido brindado sistematicamente com ambos, uma reacção qualquer do organismo impede-me de respirar, a garganta bloqueia e o ar não passa.

Normalmente tenho um pré-aviso, nunca sei quanto tempo vai durar, o organismo entra sempre em pânico, em desespero e depois é preciso calma até a garganta desbloquear novamente.


Os de curta duração duram alguns segundos apenas, mas hoje às 5:00, acho que bati o record, foi mesmo muito tempo, 1 minuto, talvez 2, talvez 3, talvez mais.
O que me preocupa é que eu já estava a ver o caso tão mal parado que nem sequer estava a pensar racionalmente, nem me lembrei de experimentar o gelado.

Naqueles momentos não se pensa em mais nada, senão em respirar, nada mais importa, apenas respirar.


O desafio é controlar o organismo, que até ácido tenta ir buscar ao estômago para queimar o bloqueio...

Beber água, gelado (sim, ambos com o resultado expectável), suster a respiração, respirar apenas pelo nariz muito lentamente, tudo vale, a ver se passa.


Hoje ao 6º médico finalmente tive um diagnóstico que fazia sentido, a garganta inflamada, mas limpa, pulmões limpos, análises, rx, tudo ok, acho que isso nunca ajudou.

A médica dizia-me que sabia o que eu tinha, porque também tinha tido e o que sabia foi o que leu nessa altura quando teve.

Ela dizia-me que cada vez que lhe dava, pensava que ia morrer, que o consolo dela era saber que se desmaiasse, o corpo iria relaxar e ela iria voltar a respirar.

Mas acho que não vou experimentar a desmaiar, não vá a coisa correr mal...

Novamente a médica recomendou-me que pelo menos estes dias deixasse de dormir sozinho, que era melhor para controlar a ansiedade, para quê, para traumatizar alguém?
Até ela dizia que não havia nada a fazer.

De facto, é muito menos traumático passar por isso acompanhado, tive essa experiência num que me deu à tarde, mas para a pessoa que assistiu...

Já basta uma pessoa, cada vez que vai dormir, não saber o que a noite vai trazer...

Amanhã começo o medicamento que deverá resolver o problema, o desafio vai ser até lá!


Depois de mais de 10 crises, 4/5 das quais prolongadas, acho que ficou bem presente, o que é querer respirar, o que é bom para uma pessoa sentir o que quer mesmo, para reflectir sobre as suas prioridades, para não perder tempo com coisas secundárias.

Aquela sensação de que podia ter morrido ou de será que é esta noite que vou morrer, também nos faz pensar na nossa vida, nas pessoas que são importantes para nós, nas responsabilidades que temos, no que somos.

Isto porque só hoje, fiquei a saber que se desmaiar fico ok, ou pelo menos vamos lá acreditar que sim.


Sim, já devia estar a dormir há umas horas, as desculpas que eu arranjo...

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