02 setembro 2016

Ostracização

Quando um grupo obriga um amigo teu a desconvidar-te para um almoço que está a organizar, está tudo dito. A mensagem que querem que te vás embora, é clara.

A primeira coisa que lamentei foi a forma como ele perdeu a cara comigo, ele sabia o que estava a fazer, como nos dávamos bem e que não tinha escolha. Eu vi como ele se estava a sentir, a sofrer com a situação.

Ninguém quer ser amigo de quem é ostracizado, posto de parte, gozado, na realidade ninguém se pode dar a esse luxo, porque é preciso ter muita força para aguentar uma situação dessas.

Mas obviamente que a ele seguiram-se outros, assumindo que para uma mulher pedir isso, supostamente em nome das outras, era porque eu teria feito algo muito grave. Só que não.

A chamada difamação implícita, que leva as pessoas a pensarem tudo e mais alguma coisa, mas na realidade ninguém disse nada, um truque porreiro não é? :)

“Perdoa-lhes pai porque não sabem o que fazem?”
“Onde houver ofensa, que eu leve o perdão”?

Claro que não, porque todos eles quando confrontados com a realidade da atitude deles, não vão querer admitir que erraram, que foram fracos, mesmo que fosse verdade, porque mesmo que fosse verdade, a atitude correcta não é essa.

Condenar uma pessoa, ostracizando-a, sem sequer a ouvir, nem lhe dar possibilidade de defesa?

Como tal, até a eles próprios se vão querer convencer de coisas que sabem que não são verdade, por isso é que isto é tão eficaz.

Mesmo que exista um erro da minha parte ou um mal entendido por trás, claro que a dimensão é ampliada e as certezas amplificadas.

A coisa mais ausente da nossa sociedade é precisamente isso, as pessoas são incapazes de admitir os seus erros e pedir desculpa e depois as situações vão escalando.

Eu quando erro, tento pedir desculpa, mas raramente as pessoas sequer querem, parece que ficam satisfeitas por terem algo contra mim, como se tivessem carta branca para fazerem tudo o que lhes apetecer.

Por isso, eu relevar, esquecer, perdoar, etc, mesmo que o faça, é estar a credibilizar uma situação que me difama, ou seja, é uma auto-difamação.

“Onde houver discórida, que eu leve a união”

Atitudes destas foi uma constante em toda a minha vida, até quando tive cancro.
E claro, se as pessoas são obrigadas a fazer-te isto quando tens cancro, ah menino, elas vão fundo, ah se vão, porque é daqueles momentos em que a sociedade diz que se deve ter sempre misericódia.
Como é que se vão olhar no espelho?

Mesmo que seja fácil comprovar a tua inocência, nem sequer te perguntam nada, nem sequer querem saber o que estás a passar, ou como é duro estar nessa situação, é mais fácil assim, porque no fundo as pessoas sabem a verdade, escolhem é o mais fácil para elas.

Os melhores conselhos que recebo são sempre “vai-te embora”, e sim, tenho feito isso a vida toda, mas a natureza humana é a mesma, em qualquer lado onde se vá, é sempre a mesma coisa.

“As pessoas fazem sempre a coisa estúpida e egoísta, 10 vezes em cada 10.”

E mesmo assim tentei sempre ser o melhor amigo possível, o melhor filho possível, o melhor marido possível, o melhor colega possível, o melhor escuteiro possível, o melhor aluno possível, etc, mas quando chega a hora de escolher, as pessoas escolhem sempre o lado que temem, porque esperam que da minha parte haverá sempre compreensão.

Quando as pessoas percebem que mesmo assim, não quebro, nem dobro, mesmo estando sozinho, mesmo passando o Natal sozinho, vêm isso como uma vitória, um fundamento contra mim, mas a verdade é que é uma força de carácter que muitas poucas pessoas têm.

“Onde houver erros, que eu leve a verdade”

Eu sei que não me devo preocupar com a difamação que me fazem, que basta apenas a linearidade do meu perfil, mas as pessoas não querem a verdade.

A umas, isso deixa-as desconfortáveis, já a outras, isso não dá prazer, o que dá prazer é mesmo causar sofrimento ao outro, só porque é diferente, só porque desde pequenino foi educado para não ter quereres, para ter apenas responsabilidades, deveres e obrigações, para fazer a coisa certa, para ser capaz de sacrificar tudo.

Neste caso, a festa começou quando ainda estava seriamente debilitado do cancro, foi em grande, à confiança, as pessoas achavam que podiam tudo, só que não, o meu cérebro voltou, voltei a poder dar a cara para o meu mundo e ele aguarda-me de braços abertos.
Na verdade ansiosamente e com o prazo a apertar! :D

“Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado”

Essa é a receita para se ficar sozinho, só se impondo consequências às pessoas é que elas aprendem e dão valor, ser superior ou dar-lhes outra oportunidade, é dar-lhes espaço para fazerem ainda pior.

Felizmente ao longo dos anos fui conhecendo muitas boas pessoas, mas sem a minha capacidade de aguentar, para lhes evitar problemas vi-me obrigado a afastar-me. Felizmente essa necessidade está prestes a acabar, basta que eu abrace o meu mundo, mas vai ser um abraço muito triste, pelo menos para mim.

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