04 outubro 2016

Perspectivas

Há um discurso que diz que determinados objectivos só se atingem quando os queremos tão fortemente como queremos respirar. Já um discurso famoso alerta para a mudança de perspectiva quando temos a noção que podemos morrer.

Estas semanas tenho sido brindado sistematicamente com ambos, uma reacção qualquer do organismo impede-me de respirar, a garganta bloqueia e o ar não passa.

Normalmente tenho um pré-aviso, nunca sei quanto tempo vai durar, o organismo entra sempre em pânico, em desespero e depois é preciso calma até a garganta desbloquear novamente.


Os de curta duração duram alguns segundos apenas, mas hoje às 5:00, acho que bati o record, foi mesmo muito tempo, 1 minuto, talvez 2, talvez 3, talvez mais.
O que me preocupa é que eu já estava a ver o caso tão mal parado que nem sequer estava a pensar racionalmente, nem me lembrei de experimentar o gelado.

Naqueles momentos não se pensa em mais nada, senão em respirar, nada mais importa, apenas respirar.


O desafio é controlar o organismo, que até ácido tenta ir buscar ao estômago para queimar o bloqueio...

Beber água, gelado (sim, ambos com o resultado expectável), suster a respiração, respirar apenas pelo nariz muito lentamente, tudo vale, a ver se passa.


Hoje ao 6º médico finalmente tive um diagnóstico que fazia sentido, a garganta inflamada, mas limpa, pulmões limpos, análises, rx, tudo ok, acho que isso nunca ajudou.

A médica dizia-me que sabia o que eu tinha, porque também tinha tido e o que sabia foi o que leu nessa altura quando teve.

Ela dizia-me que cada vez que lhe dava, pensava que ia morrer, que o consolo dela era saber que se desmaiasse, o corpo iria relaxar e ela iria voltar a respirar.

Mas acho que não vou experimentar a desmaiar, não vá a coisa correr mal...

Novamente a médica recomendou-me que pelo menos estes dias deixasse de dormir sozinho, que era melhor para controlar a ansiedade, para quê, para traumatizar alguém?
Até ela dizia que não havia nada a fazer.

De facto, é muito menos traumático passar por isso acompanhado, tive essa experiência num que me deu à tarde, mas para a pessoa que assistiu...

Já basta uma pessoa, cada vez que vai dormir, não saber o que a noite vai trazer...

Amanhã começo o medicamento que deverá resolver o problema, o desafio vai ser até lá!


Depois de mais de 10 crises, 4/5 das quais prolongadas, acho que ficou bem presente, o que é querer respirar, o que é bom para uma pessoa sentir o que quer mesmo, para reflectir sobre as suas prioridades, para não perder tempo com coisas secundárias.

Aquela sensação de que podia ter morrido ou de será que é esta noite que vou morrer, também nos faz pensar na nossa vida, nas pessoas que são importantes para nós, nas responsabilidades que temos, no que somos.

Isto porque só hoje, fiquei a saber que se desmaiar fico ok, ou pelo menos vamos lá acreditar que sim.


Sim, já devia estar a dormir há umas horas, as desculpas que eu arranjo...

16 setembro 2016

Coincidências

Uma das pessoas que me preparou dizia que não haviam coincidências, que não acreditava em coincidências, que basicamente devemos sempre analisar tudo em pormenor, até ao ínfimo detalhe.

Mas eu não sei explicar isto, porque se tivesse feito de propósito não tinha conseguido.

Como é que eu me consigo cruzar com uma pessoa ao pé da minha casa, a uma hora próxima da hora a que ela saiu da minha casa há exactamente 2 anos, no dia em que no fundo a nossa amizade colapsou.

Lembro-me perfeitamente desse dia, era o segundo dia dela na empresa para onde tinha ido trabalhar, estava muito cansada, mas muito feliz, tinha saído mais cedo e aproveitou para trabalhar na tese, eu apertava com ela, revia...

Ela terminou, segundo me disse, ia a casa de uma colega e depois para casa, mais tarde quando falámos, a amizade que outrora nos ligava tinha desaparecido.

Só nos vimos mais uma vez e apesar de meses a morar ao pé dela, nunca mais a tinha visto, nem tido quaisquer notícias dela, só há talvez 2 semanas soube a nota que ela teve na tese, fiquei tão orgulhoso dela.

Hoje quando a vi, para ser sincero não a reconheci, ela está muito diferente, ela já não é a mesma pessoa, mas infelizmente isso é normal, passaram-se dois anos, ela era uma pessoa muito especial e a nossa sociedade não perdoa.

Também eu já não sou a mesma pessoa, já resta muito pouco em mim da pessoa que ela conheceu, aquilo que outrora era o que mais valorizava em mim, agora é apenas um ponto fraco que tem de ser suprimido.
Adaptando de Jack Welch, devemos suprimir os nossos pontos fracos para que não os usem contra nós.

Não sei se algum dia vou recuperar a amizade dela, nunca tive uma amiga tão querida e tão especial, a nossa amizade era mesmo real, como todas são supostas ser.
Foi ela que me mostrou uma espiral ascendente, o que era o amor, embora nunca tenhamos sido mais que amigos.

Sim, a amizade é suposta ser uma ligação de amor entre as pessoas, tal como é suposto haver entre pais e filhos, irmão e irmãs, etc, etc.

Actualização: No dia seguinte, estou com um bocado dor de cabeça de tanto tossir, saio de casa para apanhar um pouco de ar fresco e vejo-a novamente.

02 setembro 2016

Ostracização

Quando um grupo obriga um amigo teu a desconvidar-te para um almoço que está a organizar, está tudo dito. A mensagem que querem que te vás embora, é clara.

A primeira coisa que lamentei foi a forma como ele perdeu a cara comigo, ele sabia o que estava a fazer, como nos dávamos bem e que não tinha escolha. Eu vi como ele se estava a sentir, a sofrer com a situação.

Ninguém quer ser amigo de quem é ostracizado, posto de parte, gozado, na realidade ninguém se pode dar a esse luxo, porque é preciso ter muita força para aguentar uma situação dessas.

Mas obviamente que a ele seguiram-se outros, assumindo que para uma mulher pedir isso, supostamente em nome das outras, era porque eu teria feito algo muito grave. Só que não.

A chamada difamação implícita, que leva as pessoas a pensarem tudo e mais alguma coisa, mas na realidade ninguém disse nada, um truque porreiro não é? :)

“Perdoa-lhes pai porque não sabem o que fazem?”
“Onde houver ofensa, que eu leve o perdão”?

Claro que não, porque todos eles quando confrontados com a realidade da atitude deles, não vão querer admitir que erraram, que foram fracos, mesmo que fosse verdade, porque mesmo que fosse verdade, a atitude correcta não é essa.

Condenar uma pessoa, ostracizando-a, sem sequer a ouvir, nem lhe dar possibilidade de defesa?

Como tal, até a eles próprios se vão querer convencer de coisas que sabem que não são verdade, por isso é que isto é tão eficaz.

Mesmo que exista um erro da minha parte ou um mal entendido por trás, claro que a dimensão é ampliada e as certezas amplificadas.

A coisa mais ausente da nossa sociedade é precisamente isso, as pessoas são incapazes de admitir os seus erros e pedir desculpa e depois as situações vão escalando.

Eu quando erro, tento pedir desculpa, mas raramente as pessoas sequer querem, parece que ficam satisfeitas por terem algo contra mim, como se tivessem carta branca para fazerem tudo o que lhes apetecer.

Por isso, eu relevar, esquecer, perdoar, etc, mesmo que o faça, é estar a credibilizar uma situação que me difama, ou seja, é uma auto-difamação.

“Onde houver discórida, que eu leve a união”

Atitudes destas foi uma constante em toda a minha vida, até quando tive cancro.
E claro, se as pessoas são obrigadas a fazer-te isto quando tens cancro, ah menino, elas vão fundo, ah se vão, porque é daqueles momentos em que a sociedade diz que se deve ter sempre misericódia.
Como é que se vão olhar no espelho?

Mesmo que seja fácil comprovar a tua inocência, nem sequer te perguntam nada, nem sequer querem saber o que estás a passar, ou como é duro estar nessa situação, é mais fácil assim, porque no fundo as pessoas sabem a verdade, escolhem é o mais fácil para elas.

Os melhores conselhos que recebo são sempre “vai-te embora”, e sim, tenho feito isso a vida toda, mas a natureza humana é a mesma, em qualquer lado onde se vá, é sempre a mesma coisa.

“As pessoas fazem sempre a coisa estúpida e egoísta, 10 vezes em cada 10.”

E mesmo assim tentei sempre ser o melhor amigo possível, o melhor filho possível, o melhor marido possível, o melhor colega possível, o melhor escuteiro possível, o melhor aluno possível, etc, mas quando chega a hora de escolher, as pessoas escolhem sempre o lado que temem, porque esperam que da minha parte haverá sempre compreensão.

Quando as pessoas percebem que mesmo assim, não quebro, nem dobro, mesmo estando sozinho, mesmo passando o Natal sozinho, vêm isso como uma vitória, um fundamento contra mim, mas a verdade é que é uma força de carácter que muitas poucas pessoas têm.

“Onde houver erros, que eu leve a verdade”

Eu sei que não me devo preocupar com a difamação que me fazem, que basta apenas a linearidade do meu perfil, mas as pessoas não querem a verdade.

A umas, isso deixa-as desconfortáveis, já a outras, isso não dá prazer, o que dá prazer é mesmo causar sofrimento ao outro, só porque é diferente, só porque desde pequenino foi educado para não ter quereres, para ter apenas responsabilidades, deveres e obrigações, para fazer a coisa certa, para ser capaz de sacrificar tudo.

Neste caso, a festa começou quando ainda estava seriamente debilitado do cancro, foi em grande, à confiança, as pessoas achavam que podiam tudo, só que não, o meu cérebro voltou, voltei a poder dar a cara para o meu mundo e ele aguarda-me de braços abertos.
Na verdade ansiosamente e com o prazo a apertar! :D

“Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado”

Essa é a receita para se ficar sozinho, só se impondo consequências às pessoas é que elas aprendem e dão valor, ser superior ou dar-lhes outra oportunidade, é dar-lhes espaço para fazerem ainda pior.

Felizmente ao longo dos anos fui conhecendo muitas boas pessoas, mas sem a minha capacidade de aguentar, para lhes evitar problemas vi-me obrigado a afastar-me. Felizmente essa necessidade está prestes a acabar, basta que eu abrace o meu mundo, mas vai ser um abraço muito triste, pelo menos para mim.

15 agosto 2016

Uma visão pragmática do amor

O que é o amor?

Após inúmeras conversas, até com colegas de ginásio, contra a visão de amor como complemento, em que o outro serve apenas para complementar e não completar, em que primeiro está o eu e depois o outro…

Resolvi então tentar resumir os pontos principais, embora seja de saúdar como tantas pessoas diferentes, consideram importante debater o tema, numa sociedade em que é cada vez mais relegado para segundo plano.

O problema começa com a utilização indiscriminada de amor, usa-se amor para tudo e mais alguma coisa, a utilização mais preocupante é utilizar amor quando na realidade estamos a falar de posse.
Depois agrava-se com a defesa que em primeiro lugar deve estar o próprio e só depois o objecto amado, que deve ser apenas um complemento e nada mais.


Mas afinal o que é o amor?

No entanto ainda existe um consenso escondido sobre o que é o amor, que é o que supostamente deve ligar os pais aos filhos.

Se pais se colocam em primeiro lugar face aos seus filhos, se os sacrificariam, se não se sacrificariam por eles, ou sacrificariam um pelo outro, a sociedade até vai mais longe argumentando que nem devem ser chamados de pais, quanto mais dizer que amam os seus filhos.

Por isso por enquanto, a sociedade ainda sabe uma coisa simples acerca do amor, o amor não é acerca do próprio, mas acerca do objecto amado, ou seja, quando se ama, não é a própria pessoa que importa, mas sim o objecto desse amor.

E esse amor pode ser dirigido a outras pessoas, a objectos, à sociedade, ao próximo, a Deus, aquilo que a pessoa escolher amar.

Por isso, se não é altruísta, se se espera algo em troca, não é amor, é negócio.
Se o objecto desse amor, é digno ou merecedor desse amor, é um assunto à parte.


O amor não é só o amor romântico

O amor supostamente deve ser a coisa que deve ligar as pessoas umas às outras, seja família, sejam até mesmo amigos, etc. Quando entre amigos não existe amor, não existe amizade e é fácil de perceber.

A definição de amizade que eu considero válida é uma que diz que somos amigos de alguém quando aquilo que lhe acontece, sentimos como se fosse connosco.

Por negação é fácil de ver, ora se sacrificarmos os nossos amigos, e não nos sacrificarmos por eles, que raio de amigos somos? ;)

Na verdade, com os nossos amigos, não sentimos como se fosse connosco, connosco nós sabemos o que se passa, o que sentimos, mas com os nossos amigos temos sempre de assumir o pior, pois são nesses casos quando mais precisam de nós.

Por isso sim, a amizade implica a presença de amor, nós é que temos muitos conhecidos, colegas, usamos a palavra amigos para tudo e mais alguma coisa, mas amigos temos todos muito poucos.


O amor é uma coisa boa?

Sim, na verdade não só é uma coisa maravilhosa, como até é uma coisa extremamente poderosa, porque de um modo geral, uma pessoa em prol do que ama está disposta a ir muito mais longe do que está disposta a ir em prol de si própria.

Esta é uma verdade simples, reconhecida há milhares de anos, e amplamente utilizada quer para fins militares, quer policiais.

Pode surpreender de início, mas se começarmos a pensar na formação militar, no amor à pátria, à família, aos camaradas, na forma como são tratados pelos instrutores para se unirem, etc, a expressão de irmãos de armas não é fruto do acaso, mas sim de uma estratégia militar simples que utiliza o amor como uma forma de tornar os seus soldados mais eficazes.

Mas a ideia não é simplesmente levar o soldado a ir muito mais longe do que iria por si próprio, é também desviar o foco dele próprio, do seu medo de morrer, de falhar, para a protecção dos camaradas, para a missão que têm a executar.
Assim, quando vão para o terreno confiam que os seus camaradas os vão proteger e o seu foco é protegê-los e fazem-no instintivamente, atirando-se para cima de granadas, se a situação o exigir.

Em Esparta por exemplo, uma das maiores desonras era perder o escudo, porque o escudo era utilizado para proteger o colega do lado, já o elmo era apenas para protecção pessoal e não tinha essa relevância.

É por isso que até nas forças policiais há um esforço de estabilidade em termos de parceiros e treino nesse sentido, para que se protejam uns aos outros.
Quando um militar ou um polícia não respeita isto, ninguém quer ir para o terreno com eles.

Claro que estamos a falar de um amor fruto de um condicionamento psicológico e não algo propriamente voluntário e espontâneo, mas estão lá as componentes práticas nos comportamentos adquiridos.

No dia a dia, o amor só é uma coisa boa quando a pessoa que se ama é digna e merecedora desse amor, mas poderá ser muito doloroso de suportar se não for correspondido.
Nota: estou a falar de amor genericamente, não de amor romântico.

Por exemplo, duas pessoas dignas e merecedoras, mas a amizade é apenas num sentido, ou seja no outro sentido, existe uma interpretação subjacente dessa pessoa que leva a que não seja considerada amiga, a qual depois também promove a que todos os seus comportamentos sejam mal interpretados e como é óbvio isto magoa, não porque esperasse algo em troca.


A espiral ascendente

Vejamos então, o topo, o maravilhoso, o mais poderoso, o amor correspondido, a famosa espiral ascendente. :)
Nota: novamente isto aplica-se ao amor genericamente, entre pais e filhos, amigos, etc.

A espiral ascendente é quando duas ou mais pessoas têm uma interacção positiva, em que se puxam umas às outras para cima, no sentido de atingirem os seus objectivos, ascendendo em conjunto.

Pega na ideia base, uma pessoa que ama, coloca a outra em primeiro lugar, preocupa-se mais e está disposta a fazer mais por ela, do que ela própria, assim, vai levar mais a sério a vida da outra pessoa que ela própria levaria.

Ora quando isto é cruzado, a outra pessoa depois retribui fazendo o mesmo, puxando também pela outra pessoa, mais do que ela própria estaria disposta a fazer.

Assim, uma faz a outra ascender, a outra retribui fazendo a ascender e o ciclo vai-se repetindo.

Nota: Preocupar-se com o outro, não é dominar a vida do outro, isto novamente não é amor, mas posse.

Por mais estranho que possa parecer, isto é visto como normal na forma como os pais encaram os filhos, no entanto é assustador para filhos que tiveram pais um pouco mais possessivos ou excessivamente protectores, mas o que temem não é amor, mas posse.
No amor, não há condicionamento, não há ordens, não há imposições, não há controlo, mas sim inter-ajuda, mão no ombro, apoio, compreensão, valorização, etc.

Sim, basicamente a estratégia militar.

Obviamente que o amor romântico é algo que só pode crescer em cima disto, se isto não existe, não existe amor, quanto mais romântico.


O amor é uma coisa perigosa?

Sim, começando no exemplo militar, quando um soldado protege o colega, mas o colega não o protege a ele, está exposto e obviamente em risco.

Na realidade do dia a dia a situação é muito semelhante, pode é ser mais fácil de passar despercebida, mas no fundo, quando quando uma pessoa ama, mas não é amada de volta, basicamente deixa de existir.
Ou seja, uma pessoa no fundo só existe se for amada, ou se quisermos, são as pessoas que nos amam que nos dão existência, é engraçado dizer isto.
Mas são inúmeras as frases célebres que o dizem, nomeadamente “Nenhum homem é uma ilha” de John Donne.

A explicação é simples, ao amar, a pessoa coloca a outra em primeiro lugar, a outra não amando, aproveita-se disso e como não a ama, está-se a borrifar, pelo que há a tendência até de promover que a outra se esqueça cada vez mais de si própria.
O machismo é um excelente exemplo disso, tal como pais que tratam os filhos como criados, entre muitos outros...

Por isso, eu compreendo completamente quando os psicólogos criticam abertamente o amor, é tão raro que seja correspondido, que coloca um risco tão grande, que é preferível convencer as pessoas a não amar.

A primeira vez que uma psicóloga me disse que era uma ilusão que os relacionamentos tivessem alguma coisa a ver com o amor, confesso que foi um choque, contra tudo o que acreditava.

Mas comecei a prestar atenção e percebi que era essa a realidade, pior ainda, a maior parte dos casais que conhecia nem sequer eram felizes ou um era às custas de um deles que se sacrificando, não existia.
E nem sequer escondiam, percebia-se em muitos a sinceridade, quando admitiam abertamente quando diziam que os filhos eram a melhor coisa que lhes tinha acontecido, que viviam apenas para os filhos e mais nada


Em que ficamos deve-se amar ou não?

Os militares diriam que é assim que se ganham as batalhas.
E eu responderia “um soldado tem a vantagem de conseguir olhar o seu inimigo nos olhos”, no dia a dia as coisas são, digamos, mais flexíveis.

Quando se forma uma espiral ascendente, eu diria que sim, já vi coisas maravilhosas, pessoas tornarem-se coisas que nunca pensaram que poderiam ser, e era apenas amizade.
Penso que todos conhecemos casos.

Grosso modo, a maior parte dos casos que conheço são espirais descendentes, em que pelo menos uma dela deixa de existir.

Depois é muito fácil separar pessoas que se amam, basta um pequeno grão de areia que leve a uma ruptura, nem precisa de ser verdade, o sofrimento é tal que ambos ficam incapazes de lidar com o assunto. Um magoado pela mentira, o outro por não ser acreditado.

Na posse, a vontade do outro, o sofrimento do outro não importam, como tal a pessoa vai insistir até o outro ceder, mentir, fazer de conta que é outra pessoa etc.
No amor, a pessoa apresenta-se tal como é, a sua maior preocupação é não magoar o outro, respeitar a sua vontade, pelo que vai sofrer em silêncio.

Por isso é que nas histórias de amor, tal como na realidade, salvo excepções, se não existir algo ou alguém que as junte uma vez separadas, é improvável que fiquem juntas e mesmo assim...

Então quando ainda mal se conhecem ou apenas começaram a ter a percepção um do outro, é das coisas mais fáceis, porque a insegurança de ambos está ao rubro e depois encarrega-se de pegar nesse grão de areia e construir uma barreira.


Porquê tanta confusão sobre o que é o amor?

Na verdade, a maior parte das pessoas não quer amar, mas quer ser amada, e é fácil de perceber porquê.

Em primeiro lugar, amar dá trabalho, preocupações, dá poder à pessoa que amamos para nos magoar, é um ponto fraco, trás preocupações adicionais, implica disponível para o outro, etc, etc.

Pelo que é muito fácil perceber a visão amor como complemento, simplesmente não se está para isso, para dar, mas está para se receber. Ou seja, se o outro interessar excelente, se der trabalho azar. Se esta visão pega, vamos ter muitos pais a dar os filhos para a adopção.


O problema da confusão com a posse

Quando a pessoa não ama, o sentimento que gera por quem a ama é posse.
Frases como por exemplo, “luta por ela” são posse, não se conquista o amor, não se impõe ao outro, não se cansa o outro até conseguir o seu amor, o amor ou surge espontâneamente ou não é amor.

Abundam centenas de frases feitas, armadas em indicadores da presença de amor, que na realidade são indicadores de posse, normalmente começam com “se te ama então”, o triste é que na esmagadora maioria dos casos, se amar mesmo vai fazer exatamente o oposto ou pelo menos o que a frase diz, não de certeza. Salvo excepções, se ama, vai fazer o que pedes.

Existe então uma frase que têm circulado muito, com muitas variações, mas que a base é esta “as pessoas que gostam de nós, arranjam sempre maneira de ficar nas nossas vidas”, só que não é verdade.

Qualquer pessoa que goste de nós, se a fizermos sentir que a queremos fora das nossas vidas, ela vai embora.
Ela só vai ficar se por qualquer motivo não poder ir, mas se ela nos amar mesmo, ela vai-se arranjar maneira e assim que puder vai, por mais que lhe doa, ela vai.

Isto é particularmente importante porque é assim que nós expulsamos das nossas vidas as pessoas que devíamos manter...


Conclusão

O amor é uma coisa muito poderosa, mas não é para todos, para alguns terá de bastar encontrarem alguém digno e merecedor, outros nunca saberão o que é amar.

E ser amado? No amor o que importa é quem se ama.

Então e a espiral ascendente? A única coisa que podemos fazer é amar alguém digno e merecedor, corresponder é algo que pertence ao outro, temos de respeitar a sua vontade e o espaço que nos dá na sua vida.

O exemplo dos pais e dos filhos, ajuda a compreender, porque felizmente, tem sido poupado a esta desinformação de uma sociedade que apela ao narcisismo, a que se use o outro.
Simples e escondido à frente dos olhos. :)

#Love :D

12 abril 2012

Portugal - honestidade precisa-se!

Há anos que digo isto, que o empregado custa em média ao patrão mais do dobro do que recebe.
Mas ninguém quer saber, o que importa é alimentar a velha guerra contra os patrões, os exploradores...

Os patrões, aqueles que criam empregos, muitos deles por carolice que tentam empurrar o país para a frente, que pagam ordenados e as despesas do estado, esses é para deitar abaixo.

Tirando alguma actividade empresarial do estado, toda a real receita do estado vem da actividade privada. Dizer que são os funcionários públicos que estão a pagar a crise é a mesma coisa que dizer que são as crianças com a semanada que ajudam os pais a pagar a renda da casa. Ou seja se os pais ficarem sem emprego e se não tiverem direito a subsídios, sempre têm a ajuda das semanada à mesma?

Tão eficaz porque os empregados e os funcionários públicos são a maioria do eleitorado.

Ui, então quando o objectivo é falar nos ordenados milionários e habilmente se fala nos mesmos antes de impostos, quando se sabe que os portugueses fazem comparações é com o que levam para casa...

O que importa se muitas vezes um ordenado milionário é de uma pessoa que deu lucro e um ordenado mínimo é de uma pessoa que deu prejuízo? Nada. E se cerca de 3/4 vão direitinhos em impostos para o estado? Nada.

Os Portugueses precisam de parar para pensar e perceber que temos de passar a ter um comportamento emergente sério e honesto. Não é que em Portugal a maioria não sejam pessoas sérias e honestas, o problema é que não são essas que estão a ditar aquele que é o comportamento colectivo nacional.

O melhor exemplo é sem dúvida o momento em que passamos, em que para que o país aceite as reformas estão a impor as medidas de austeridade que só pioram a situação.

Não é por acaso que as tão faladas reformas, nomeadamente na justiça ou na máquina fiscal sempre foram tão problemáticas e tão pouco desejadas.

É que os desonestos intimidam as pessoas sérias e honestas, fazendo-as temer um estado papão que as vêm destruir, quando no fundo é a eles que a situação actual interessa para que possam continuar a depenar as pessoas sérias e honestas.

Ou há alguém que não perceba que quando o amigalhaço foge aos impostos ou recebe subsídios indevidamente, são os que não fogem que os têm de pagar?

Ou há alguém que acredite seriamente que um país com uma justiça e uma máquina fiscal pouco eficazes é bom para pessoas honestas?

Eu sei que muitas vezes as desonestidades das pessoas são a resposta a outras de que foram alvo e a falhas graves do estado.
Não podemos dizer por exemplo, que esmagar umas empresas com impostos pesadíssimos enquanto outras vivem da economia paralela não é uma falha grave do estado.
Que quando uma empresa é alvo da desonestidade de outra, o estado não intervêm, mas exige os seus impostos, também não seja uma falha grave.
Entre muitos outros exemplos.

Mas a desonestidade não é solução, a desonestidade é apenas afundar ainda mais o buraco.
A esmagadora maioria dos portugueses ambiciona o bem estar de outros países, onde as pessoas na sua maioria dizem confiar nos habitantes dos mesmos.
Em Portugal se pergunto às pessoas se confiam nos portugueses, riem-se.
Portugal precisa de mudar, Portugal precisa de honestidade activa!

E honestidade activa implica as pessoas serem honestas nas suas opiniões, não meros repetidores de manipuladores que lhes dizem coisas simples para andarem de boca em boca.

Quantas vezes faço perguntas simples às pessoas e as deixo caladas ou me respondem que não percebem nada disso. Não percebem porque não querem porque assim podem repetir aquilo que toda a gente quer ouvir, mas que toda a gente sabe que não é verdade.

O exemplo mais espantoso é os ataques à nossa classe política, eu só pergunto, se eles dissessem a verdade, votava neles? A resposta em geral é o silêncio.

A culpa está em cada um de nós, não basta ser honesto, é preciso lutar no dia a dia conta a desonestidade.

05 abril 2012

Perda de 14% dos salários já ou 50% amanhã

From Portugal with love,

Continua a mesma dança da austeridade para as pessoas aceitarem as reformas mas nada.
Obviamente que acabar com o subsídio de férias e de natal é adequado e muito importante neste momento.
Adequado porque o facto de o trabalhador trabalhar 11 meses e receber 14 cria uma assimetria que faz com que na prática o custo real do trabalhador para a empresa seja sensivelmente o dobro do que recebe por mês.
Claro que em situações normais isto deveria ser feito dividindo pelos 12 meses os actuais 14 salários, eu até iria os 14 pelos 11, mas enfim.

Agora porque é que seria importante fazer isto agora retirando os subsídios?
Pelo simples motivo que os nossos salários estão demasiados elevados e isso implica-nos um custo em termos de competitividade, ou seja isto poderia de facto relançar a economia.

Claro que isto é algo muito duro para a actual realidade do país de baixos salários, mas se cairmos do euro, vamos ter um corte real que vai chegar aos 50% e isso sim claro, vai resolver este problema e o peso das reformas na actual população activa.

Por isso trata-se de entre de escolher entre um corte de 14% agora ou um de 50% daqui a dois ou três anos como defendem os que garantem que a caída de Portugal do Euro está garantida. E só está na prática se assim o quisermos.

Mas ainda assim, eu considero que muito mais importante que isto são várias reformas de mentalidade, mas como essas demoram mais tempo, eu escolhia os 14% já!

Até porque se relançar a economia, recuperar 14% é relativamente rápido, já recuperar 50% com o que tudo implica poderá não acontecer no tempo de vida da maior parte de nós.

Novamente é uma questão de matemática e é por este motivo que os portugueses odeiam a matemática.

07 novembro 2010

Pensem, Portugueses, Pensem

Os portugueses deixam-se vender em troca dos votos...

Aumentos na função pública, medicamentos genéricos gratuitos para os idosos, mais umas injustiças laborais e siga...

As leis laborais dão imensos votos porque fazem muitas empresas reféns dos empregados, mas à conta disso proliferam as empresas de trabalho temporário e os recibos verdes...
Mas eleitoralmente falando, está bom, como tal, aumenta a precariedade e diminui a competitividade das empresas.

Enquanto os portugueses não perceberem que sem uma cultura de mérito e trabalho não vamos a lado nenhum pouco há a fazer.

A ideia de que existe uma fonte inesgotável de dinheiro, colónias para explorar, não terminou com a descolonização à custa do endividamento, mas até isso tem limites.

Recusam-se a reparar que as grandes empresas nas áreas das novas tecnologias preferem países mais caros, como a Inglaterra e ninguém se pergunta porquê...

Ataquem o Sócrates à vontade e depois reparem que ele é o reflexo da vontade nacional, em geral as medidas que ele toma têm o apoio da maioria da população.

É injusto o corte aos funcionários públicos, claro que é, é um corte cego que castiga tanto bons como maus trabalhadores, mas quando os próprios não exigem justiça salarial entre si, pouco há a fazer...

O Sócrates já é passado na política portuguesa e deverá ser ele mesmo a ditar o fim da política que temos tido desde o 25 de Abril, ou tomando as medidas que têm de ser tomadas (que ainda não são estas) ou demitindo-se para que seja o Passos a tomá-las.

Agora podemos olhar para o que se passa em perspectiva ou olhar para o chão e culpar quem elegemos, porque somos nós, os portugueses que fechamos os cargos de responsabilidade a pessoas sérias...

Somos nós que não exigimos leis que responsabilizem os políticos civil e criminalmente, somos nós que os deixamos ter mais direitos que o cidadão comum, quando deviam ter mais deveres.

Somos nós que os deixamos dizer o que quiserem na Assembleia da República sem terem de provar o que dizem... Motivo pelo qual abrem tantos noticiários...

Somos nós que desde o 25 de Abril, andamos a querer dinheiro sem saber muito bem de onde vem, nem quem o vai pagar...