Bem, eu estou farto de andarem a atirar areia para os olhos das pessoas, de lhes dizerem que os baixos ordenados são porque as empresas não têm escrúpulos, que não valorizam as pessoas, etc, etc.
Sempre foi sabido que as empresas gostam de reter os bons trabalhadores, o problema é quando o bom trabalhador deixa de o ser e a empresa precisa de se livrar dele.
Recentemente um colega profissão contou-me a situação dele, trabalha para a empresa Y que o vende à empresa Z. A empresa Y recebe 6 000€ por mês pelo trabalho dele, ele está com um contrato a prazo, e não deverá receber algo perto dos 1500€ por mês.
Agora digam-me, porque é que a empresa paga 6 000€ por mês, é porque reconhece o valor dele, certo?
Então porque é que o contrata através de outra empresa? Porque não quer ter problemas com ele quando ele deixar de interessar.
Agora digam-me, o que seria melhor para ele? Receber 66 000€ por ano e poder sair a qualquer momento ou receber 21 000€ por ano e usufruir da segurança de ter ser indeminizado se deixarem de precisar dele?
O triplo não é suficiente para cobrir o risco? É que se o cliente Z deixar de precisar dele, a empresa Y poderá alegar justa causa e vai para a rua à mesma.
Pois é, ele deveria poder escolher, mas não pode, não pode porque as pessoas não deixam a flexisegurança entrar em portugal, não deixam que a meritocracia entre em Portugal.
Acham, que só acontece no caso dele, não! Acontece com milhares de pessoas que estão a trabalhar através de empresas de trabalho temporário que absorvem tudo.
Seja através de recibos verdes, contratos a prazo, ou empresas de trabalho temporário, a realidade é clara, saem prejudicados trabalhadores e empresas.
E claro, o bom trabalhador sai sempre prejudicado, porque as regras estão feitas para quem não trabalha. Pesquisem o código do trabalho, a única referência que encontrei a produtividade, dizia que era proibido usar video vigilância para aferir a produtividade dos empregados.
E esta heim? É para admirar que em Portugal haja falta de produtividade? :P
Bem, eu vos digo, temos de lutar rapaziada, temos de acabar com isto, não faz sentido andarmos a sustentar empresas de trabalho temporário, até porque elas não resolvem o problema, apenas o escondem.
Quem não conhece histórias até de colegas de trabalho que lesaram a empresa onde trabalharam, quer porque não trabalhavam, quer porque eram negligentes, quer porque custavam clientes à empresa. E a empresa nada podia fazer, porque era complicado conseguir provar a justa causa e a pessoa em causa queria uma indemnização mais alta?
Pois são estas histórias que assustam as empresas, são estas histórias que baixam os ordenados, são estas histórias que prejudicam o bom trabalhador, aquele que teve de trabalhar para a empresa pagar ao mau para se livrar dele e sobreviver.
4 comentários:
Humz... post muito interessante. Nunca tinha pensado no efeito da flexigurança no mercado de trabalho outrsourcing. Resta saber se a empresa X iria alguma vez dispensar 6000€ para o trabalhador. Provavelmente pagava os 1500/2000 e já ficavam todos contentes.
Se tiveres em conta que a empresa do exemplo que falei é uma grande empresa nacional, e a empresa que lhe vende o recurso é apenas uma empresa local.
Porque não pressiona a grande a pequena, dado que a grande sabe e bem a margem de lucro da pequena?
É verdade que provavelmente que numa introdução da flexisegurança os ordenados não saltariam para 3x mais, mas à uns anos quando as empresas de trabalho temporário viraram moda, os ordenados na nossa área baixaram para metade.
E depois funcionaria com base na oferta e na procura. Se tens um bom currículo e garantes que és mesmo bom, pagam-te bem, se fores uma fraude mandam-te embora e não têm de andar lá a aguentar contigo.
Noutros países ondem não existem estes problemas, na verdade os ordenados até são bem mais altos do que isto. Até porque o ppl fica mais motivado, trabalha mais e melhor e ganha mais.
E depois se via outsourcing, começassem a pagar mais em todo o lado iam começar a pagar mais.
Até porque como sabemos a grande maioria do outsourcing, à uns anos era contratação directa. Já para não falar das empresas que criam empresas de outsourcing próprias para lhes fornecerem os trabalhadores.
Já temos teclado muito sobre este assunto e aqui fica a minha posição oficial :)
Estou totalmente de acordo contigo quando dizes que esse valor de 6.000€ mês que o cliente final paga é um exagero, mas, a forma como fazes as contas está completamente errada. A empresa de outsourcing (e não trabalho temporário) tem mais custos que os indicas.
Em primeiro lugar temos a questão do recrutamento.
Eu, numa empresa que trabalhei participei no processo de recrutamento de mais colegas e desde colocar anúncios, receber os CV por email e por correio normal, avaliar os CV (normalmente na ordem das centenas) e deles retirar uns 20 para chamar para uma entrevista, agendar essas entrevistas, avaliar as entrevistas, escolher uns 5 para uma segunda entrevista, voltar a entrevistas e no final escolher 1 ou 2 para fazer a proposta, mais uma reunião com os candidatos e fazer a proposta e esperar pela decisão..... passamos mais de 4 meses, 3 pessoas a trabalhar parcialmente no que é importante (nosso trabalho) para preparar todo este trabalho.
Usando uma empresa de outsourcing é simples. O cliente não tem que passar por todo este processo e tem um recurso, em alguns casos, na semana seguinte.
Não perdeu tempo e tem o recurso. Isto a custo de que? Paga-se à empresa que teve este trabalho de recrutamento.
Mesmo que este custo não seja possível quantificar concretamente, temos que retirar do bolo dos 6.000€.
Em segundo temos a questão dos meses de trabalho. O cliente paga 11 meses e a empresa de oursourcing paga 14 meses ao consultor. para isto a empresa de outsourcing cobra ao cliente final um valor superior ao que vai pagar ao consultor.
Em terceiro temos a questão da carteira de clientes e projectos. Tenho a certeza que o teu colega não tem como "cliente" dele as pessoas que necessitam de recursos para projectos. Ir com empresa e vender um serviço a estes clientes é melhor, pois, o cliente não fica dependente de uma pessoa, mas, de uma instituição. Se de hoje para amanhã o teu colega resolve abandonar o projecto a empresa de outsourcing chega-se à frente e coloca lá outro recurso. Se fosse uma contratação directa, o cliente tinha que passar por todo o processo que descrevi no ponto 1, perdendo mais uma vez tempo precioso para manter a competitividade em relação a empresas concorrentes.
Quarto, questão da formação e carreiras profissionais.
Neste caso é notório que a PT não tem como objectivo manter a carreira profissional de Analista / Programador. Não faz qualquer sentido. Assim delega a uma empresa de outrsourcing essa função, assim, o cliente só terá que se preocupar com o seu negócio e não com negócio de informática que neste caso são de apoio ao negócio deles, mas, não é o "Core business".
Nem tem ainda que se preocupar em manter os recursos actualizados com formação. A responsabilidade disso é da empresa de outsourcing.
por último é a flexibilidade que temos o cliente tem em conter custos.
Usar o Outsourcing é igual a poupar. Não é poupar hoje, mas, poupar nos próximos 2 ou 3 anos. Poupa-se pq o cliente não tem que ter estruturas / carreiras fora do âmbito de trabalho, poupa-se pq o cliente não tem que estar preocupado em formar estas pessoas, logo, mantém-se focado no core business, gerando assim mais vendas do seu negócio, poupa-se quando o projecto acaba, não se renova com a empresa de outsourcing....
Achas mesmo que uma empresa perfere pagar 6.000 do que pagar um total bruto de 2.000 a um empregado.
Claro que eles poupam... e muito.
Abraços
Paulo Aboim Pinto
Odivelas - Portugal
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