30 abril 2008

Vergonha Parlamentar

Que vergonha!!!

Ouvi praticamente todo o debate parlamentar e fiquei profundamente desiludido com tanta palhaçada.

Palhaçada sim, porque dizer que o facto de os recibos verdes ou os contratos a prazo agora irem pagar mais iam castigar as empresas. Que vergonha!

É certo e sabido que as empresas orçamentam um determinado custo bruto a cada trabalhador, seja qual for o seu regime, na prática o que vai implicar é que o trabalhador receba menos.

Outra grande vergonha, foi nunca ter ouvido uma referência a produtividade.

Não foi uma única vez referido o pormenor do bom trabalhador que sustenta os maus trabalhadores. Outra grande vergonha. Disto depreendo que os partidos políticos assumem que são a grande maioria dos eleitores. :|

Ora vejamos, do ponto vista prático, pelos vistos a grande novidade vai ser a caça às empresas que usam os recibos verdes ou contratos a prazo para posições permanentes. Que bom!!!

Como é que as empresas se livram dos maus trabalhadores? Simples, subcontratação, as empresas de trabalho temporário devem estar a dar pulos de contentes.

Na prática, vai significar ordenados ainda mais baixos para a grande maioria.

Agora digam-me uma coisa, o que ganhamos em descontarmos do nosso trabalho para sustentar empresas de trabalho temporário, em que não temos qualquer segurança.

Porque na prática, hoje podemos estar a trabalhar aqui, amanhã ali, é esta a maior reclamação das pessoas contra a flexisegurança.

Porque ficar algum tempo à espera de colocação não é reclamado. E se não nos conseguirem colocar em lado nenhum, podem despedir-nos na hora por supressão do posto de trabalho, incompetência, n coisas, porque têm na mão a rejeição dos clientes ou seja nalguns casos nem deverão ter direito a indemnização.

Porque raio, vos assusta mais a flexisegurança, quando já nalguns casos recebem 1/3 do que receberiam, e já estão numa situação muito pior.

Eu defendo os bons trabalhadores, porque se defendermos os bons trabalhadores, todos trabalham mais, e todos ganham muito mais, todos têm uma vida com mais qualidade.

Onde estão os mecanismos para proteger os bons trabalhadores?

Já ouvi histórias de empresas onde era fácil fazer esse cálculo e uns faziam 40% da média, outros 140%, efectivamente a lei prevê estas situações, e diz que pode haver diferenciação. Mas será que permite que um receba 40% de um valor acordado e outro 140%? Ou apenas permite uma ligeira diferenciação?

É que escreve-se muito dos direitos dos trabalhadores em geral, mas muito pouco sobre a produtividade, e como deve ser aplicada, a falta dela deve ser motivo de despedimento? É que no código do trabalho não são identificados os mecanismos que deveriam estar obrigatoriamente implementados em todas as empresas para livrar os bons trabalhadores dos maus.

Porque reparemos, existem n motivos pelos quais as pessoas deixam de produzir, por exemplo, um desgosto que fez a pessoa desinteressar-se, e isso numa PME isso é gravíssimo.

Porque em média numa PME existem 6,9 trabalhadores, normalmente cada um com uma função específica ou complementar. Ou seja uma parte da empresa fica afectada porque não existe outro que a suporte.
Em termos de ordenados de um bolo para o qual produziam 7 passam a produzir 6, ou seja os 6 que trabalham passam a receber 85% do que deveriam.

Se o patrão for uma besta, arranja um esquema qualquer e troca de empregado salvando a empresa, caso contrário a empresa vai-se afundando, porque os outros trabalhadores começam a ficar desmotivados, a empresa começa a ter mais dificuldades em ter lucro a pagar os seus impostos.

Pois, isto é preocupante, mas a verdade é bem pior, porque esta média de trabalhadores é inflacionada pelas empresas Médias que podem ter até 200 trabalhadores.

Ou seja a grande maioria das PMEs deverá ter 3 ou 4 trabalhadores, normalmente incluindo o denominado patrão. Ou seja, basta um não trabalhar em quatro, para os que trabalham apenas possam receber 75% do que deveriam. Um em três daria 66,67%. E se forem dois a não trabalhar? Ou três?

Pois é, as PMEs são só 290 000 e só empregam 2 000 000 de pessoas.
Quem é que quer saber destas pessoas?

Nas grandes empresas é diferente, em primeiro lugar porque têm pessoas dedicadas que impõem regras e controlam estas situações desde o início.

Normalmente os contratos têm algumas cláusulas que permitem penalizar a pessoa, e mesmo assim se não resultar criam um departamento fantasma, dão-lhes uns objectivos experimentais, depois suprimem o departamento e lá vão eles.

Este mecanismo chegou a ser tão usado, que até surgiu a necessidade de limitar o número de reestruturações que uma empresa pode fazer por ano.

E mesmo assim as grandes empresas o que fazem? Subcontratam uma empresa qualquer a quem pagam bem pelo trabalhador e quando ele deixar de interessar o problema é dessa empresa. Poupam-se problemas, advogados, má publicidade para a empresa, até porque muitas vezes o tribunal dá razão ao trabalhador e obriga a reintegrá-lo, o que ainda pode causar mais problemas.

Assim, com este código de trabalho fica prejudicado é sempre o bom trabalhador.

Não querem flexisegurança, pois bem, agora com o novo código do trabalho, toca a descontar para as empresas de trabalho temporário ou a todos tornarem-se empresários em nome individual ou a criarem empresas unipessoais ou ldas.

Porque a lei já diz as situações em que se podem ter contratos a prazo ou a recibos verdes, até agora simplesmente não se cumpria, mas agora o governo quer que quando esses casos sejam detectados seja reposta a realidade, ou seja, transitam para o quadro. Basta que o trabalhador se vá queixar à Inspecção Geral do Trabalho.

Não nos iludamos, as grandes empresas têm os grandes especialistas em recursos humanos, os grandes advogados, mais esquemas à disposição, maior robustez financeira, e mesmo assim preferem pagar 3x mais a um intermediário do que o trabalhador receberia, para ele não ser seu empregado.

Humm, serão estúpidas? Ou então este código do trabalho não serve os interesses dos trabalhadores?

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